
Eu começaria pelo centro da cidade. Tenho o hábito de seguir a cronologia, e, na minha cabeça, partir do centro seria uma forma de respeitar essa linha do tempo. Há muito a ser explorado ali. Mas, esta semana, assisti a um vídeo que me fez mudar de ideia.
Na terra do Pai da Aviação, um drone sobrevoava os céus da Saudosa Palmyra, registrando imagens de outra saudosa: a Igreja de Velha Dores. Tal qual Alberto viu de cima aquilo que um dia veriamos, as imagens do drone nos mostram a paz de um lugar que apesar de não ser mais o que era, ainda é.
Ô, minha velha! Quantas histórias silenciadas sob essas águas, que hoje sobrevivem apenas na memória de quem as viveu—mas ressurgem, vivas e presentes, quando são resgatadas por novas gerações.
Estive lá apenas uma vez, antes que as águas tomassem tudo. Foi uma visita em tom de nostalgia, daquelas em que se sente saudade daquilo que não viveu. Eu sabia que o lugar que nunca tinha conhecido, em breve estaria diferente. Mas, afinal, o que é a vida senão constante mudança e reinvenção?
Por um lado, fica a nostalgia que busca, sob as águas, o ponto exato onde se erguiam os casarões. Por outro, fica a sensação de que esse lugar “deixa a vida para entrar na história”. E que história!

Ao entrar num dos casarões, ouvi o ranger das tábuas sob os meus pés. Pelas frestas, dava para ver o andar de baixo. Lembrei da casa dos meus avós. Eles nunca moraram em Dores, mas essas casas antigas parecem conversar entre si, ligadas pelos ruídos e pelas memórias.
Ainda hoje, durante o período de estiagem, é possível ver o calçamento das ruas antigas e os pisos dos antigos casarões, ladrilhos hidráulicos que voltaram à moda, mas jamais contarão a história dos que viveram ali. Das casas que pulsavam vida e que agora testemunham as nuvens na seca e o silêncio nas cheias.


Este artigo é um convite, e tem a pretenção de ser tão convidativo quanto o vídeo que o inspirou e o lugarejo para o qual ele aponta.
Você, fora de Santos Dumont: venha conhecer a Velha Igreja de Dores. Você, de santos Dumont: venha também. Porque só se ama o que se conhece, e os cantos e encantos da nossa cidade estão à vossa mercê.
Como bônus, segue outro vídeo de Mario Francisco desta vez com o pôr do sol.
