Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) testou e provou que, se infraestruturas baseadas na natureza, como jardins de chuva e telhados verdes, fossem implementadas em pontos estratégicos nas cidades, o risco de inundações seria, praticamente, zerado.
O engenheiro e pesquisador em recursos hídricos da UFMG, Deyvid Rosa, provou a “fórmula de sucesso” para a prevenção de enchentes em Belo Horizonte. De acordo com o engenheiro as soluções verdes são formas alternativas à drenagem urbana uma vez que elas criam meios da água da chuva penetrar no solo e não se acumular em áreas mais baixas da cidade. “Essas ferramentas aumentam a infiltração das águas da chuva no solo para que ela não escorra na superfície, evitando inundações. O mais interessante dessas técnicas é que elas são multifuncionais, ajudam a melhorar a qualidade do ar, a atrair biodiversidade e a reduzir as ilhas de calor em meio à crise climática”, diz ele.
No ano passado, a prefeitura de Belo Horizonte implantou 60 jardins de chuva no entorno da bacia do Córrego do Nado, nas regiões Pampulha e Norte. A técnica é simples e consiste, basicamente, em zonas verdes que vão funcionar como área permeável para a água da chuva. Qualquer jardim comum pode ser transformado em um jardim de chuva com a adição de uma camada de brita e material geotêxtil. A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informou ter investido R$ 700 mil no projeto.
A prefeitura de BH tem uma parceria com a UFMG para atualização constante do plano de contenção de enchentes. A cooperação levou o Executivo a proibir novas canalizações de rios e a criar uma instrução técnica que orienta o empreendimento público e privado a respeitar os limites da natureza. Mas, para que o problema seja realmente enfrentado, é preciso ir além, de acordo com a pesquisadora do projeto, Isabela Izidoro “Estamos caminhando em um sentido contrário ao de viver em uma cidade mais resiliente às alterações climáticas, às chuvas intensas. Essas infraestruturas, verdes e azuis, não são novas, só são menos comuns. A prefeitura tem experimentos, mas isso precisa ser um investimento de grande escala para dar resultado”, avalia.
O pesquisador Deyvid Rosa construiu um modelo hidrológico que provou que, se fossem implementadas as técnicas verdes e azuis em 50% das áreas da bacia do Leitão, as inundações no local seriam reduzidas “quase por completo”. “Não dá para impedir 100% das inundações, porque podem acontecer eventos fora do comum quando se trata de natureza, mas, sim, o estudo se mostrou eficiente para conter alagamentos de grande volume, como a chuva dos 100 anos que aconteceu em 2020”, celebra.
No modelo criado pelo engenheiro, a bacia receberia as infraestruturas: jardins de chuva, pavimento permeável, reservatório individual, telhado verde e trincheira de infiltração. “Chegamos a conclusão também que, se as técnicas só fossem implementadas em 10% da bacia, o resultado não faria muita diferença. Então, essas iniciativas precisam ser de larga escala”, continua Rosa.
A pesquisadora Isabela Izidoro explica que, como as técnicas são baseadas na natureza, elas se destacam em melhorar o ecossistema urbano. “Na prática, a cidade ganha corredores verdes, mais áreas com sombras, alívios das ondas de calor. Além disso, essas técnicas podem ser aliadas a hortas populares, que dão alimento à comunidade e aos animais”, detalha.
As técnicas verdes e azuis também podem ser implementadas dentro dos imóveis e propriedades privadas. A intenção do projeto ‘Lembra: isto é rio’ é aumentar a conscientização sobre a nova forma de gerir os recursos hídricos da capital.
O estudo de manejo das águas pluviais da capital está disponível nas redes sociais do projeto. Clique aqui para conhecer.
Fonte: O Tempo